Nesta seção, o espaço é do leitor, para contar as experiências mundo afora! E, para estrear, uma leitora muito especial, pediu para que eu postasse uma aventura vivenciada por ela durante viagem à Europa, na companhia da filha. No caso, a leitora é minha mãe e a filha SOU EU!
Então, aí está a primeira história da categoria DE CARONA! Fiquem à vontade!
“Era março. Minha primeira viagem à Europa. Fomos eu e minha filha fazermos um passeio de trem pela França e Itália. Já deixo bem claro, de antemão, que não falo francês, nem italiano e, muito menos, inglês, idioma com o qual eu poderia me virar em qualquer canto do mundo. Pelo menos, isso era o que eu pensava até aquele dia. Mas, como minha filha fala inglês, fiquei tranquila em relação à nossa comunicação.
Estávamos em Paris e lá pegamos o trem com destino à Florença, uma longa viagem, de cerca de 12h. Então, compramos os tickets para fazer o percurso à noite, em uma cabine para seis pessoas. E lá fomos nós, felizes e contentes, com duas malas – a da minha filha pequena e a minha consideravelmente grande, meu maior arrependimento.
Já na plataforma do trem, custamos a encontrar nosso vagão. Quando o achamos, entramos arrastando as bagagens e iniciamos uma nova busca, agora pela nossa cabine. Os números eram dispostos de forma bem confusa nas portas das cabines, ao menos para nós, que viajávamos de trem pela primeira vez. Então, minha filha deixou as malas no pequeno corredor e foi atrás de algum funcionário do trem para saber onde era nosso ‘quarto’. Ao encontrar um senhor na porta do vagão, perguntou, em inglês, como achar o local. A resposta logo veio:
– ‘não te entendo’, disse ele, em italiano.
Ela então perguntou:
– ‘você não fala inglês?’.
E a resposta se repetiu: – ‘não te entendo’.
Pronto. Agora estávamos ali, incomunicáveis até que minha filha fez a mesma pergunta a outro senhor que ali se encontrava.
– ‘Senhora’, disse ele, em inglês, ‘os números das cabines encontram-se na porta de cada uma delas. Mas não posso ajudá-la agora, pois sou de outro vagão’.
Sabíamos que os números estavam nas portas, mas não estávamos entendendo. Foi então que retornamos ao corredor e fizemos uma breve análise das plaquinhas. Logo, achamos nossa cabine, já com quatro pessoas lá dentro: um casal de idosos, uma senhora e uma jovem. Então, entramos lá com nossas malas e começamos a luta. As malas só poderiam ser guardadas debaixo dos bancos, espaço obviamente já ocupado, ou em cima das camas, espaço obviamente vazio, mas de difícil acesso. Mas era a única opção, ainda mais se tratando da minha mala consideravelmente grande. Lá fomos nós tentar erguer o ‘container’. Não conseguíamos de jeito nenhum.
Foi então que minha filha subiu na cama e, com ajuda da moça jovem, conseguiram guardar as malas. A essa altura, todo o resto do pessoal da nossa cabine já estava no corredor, para dar espaço às meninas, inclusive eu estava lá fora dando as coordenadas:
– ‘puxa, puxa. Agora mais para a direita. Cuidado, você vai cair daí. Moça, levanta um pouco mais a mala’.
– ‘Mãe, não precisa ficar daí falando que ela não te entende’, dizia minha filha. Eu sempre esquecia que estava em outro país e as únicas brasileiras ali, pelo visto, éramos nós.
Com muita força nos braços, elas conseguiram colocar as malas no bagageiro. Os fortes aplausos dos nossos companheiros de cabine se transformaram em boas risadas. Então, tudo se ajeitou e entramos na cabine. Começamos um bate papo com nossos companheiros. Quer dizer, minha filha começou. Eu entendia apenas algumas palavras.
Descobrimos que a moça irlandesa estava indo passar as férias na casa de uma amiga na Itália. O casal de idosos ingleses estava indo comemorar o aniversário de muitos anos de casamento em Roma e a senhora italiana estava retornando de uma viagem a Paris. Esta, assim como eu, ficou muda durante a conversa.
Papo vai, papo vem, chega à cabine o funcionário italiano, que não fala inglês, e solicita os passaportes. Isso todos nós entendemos. Recolhidos todos os documentos, ele disparou a falar. Com exceção da italiana, não entendemos nada e começamos a questionar o que ele estava tentando explicar. A senhora italiana começou a tentar nos explicar também e ficou aquela confusão de três idiomas dentro de uma cabine. Com muito custo e depois de muitas mímicas, ponto para nós! Ele estava dizendo que precisava dos passaportes para o momento que cruzássemos a fronteira entre França e Itália e explicando que, às 6h, bateria à nossa porta para devolver os documentos de quem fosse descer em Florença: no caso, só eu e minha filha em todo o vagão! O horário previsto para chegar a Florença era às 7h.
Como morro de medo de me perder, ainda mais se tratando de outro país, onde não falo o idioma, já fiquei preocupada de pegarmos um sono pesado e não ouvirmos o senhor batendo à porta, ou o contrário: imagina se ele dorme e esquece de nos chamar!
Coloquei meu despertador para às 6h e pedi a minha filha que colocasse o dela também. Mesmo porque teríamos que descer a singela mala e, para isso, precisaríamos de tempo.
Às 6h toca o despertador. Minutos depois, o senhor bate à porta e nos entrega nossos documentos.
– ‘Senhor, vamos chegar a Florença no horário previsto?’, perguntou minha filha, em inglês.
– ‘Não te entendo’, respondeu o senhor.
Ela então arriscou em português mesmo, que é mais parecido com o italiano.
– ‘Não te entendo’, respondeu o senhor.
Então, a senhora italiana que estava em nosso vagão, começou a se manifestar, em italiano, para nos ajudar.
– ‘A próxima cidade é Bologna, depois, Florença’.
Ficamos de olho e chegamos à outra cidade, que não era Bologna. Já ficamos preocupadas, pois, como ela era italiana, deveria conhecer bem a região.
Andamos mais um pouco e logo ela repetiu:
– ‘A próxima cidade é Bologna, depois, Florença’.
Chegamos novamente à outra cidade. Na terceira vez que ela repetiu essa mesma frase e vimos que não estávamos, de novo, em Bologna, começamos a desesperar.
– ‘Já passou Florença e não vimos. Daqui a pouco estamos no sul da Itália’, dizia eu à minha filha. Isso já eram 8h, ou seja, 1h depois do horário previsto.
Foi então que minha filha foi até a sala do funcionário do vagão e começou a gesticular e a falar: – ‘Firenze, Firenze’. Ele fazia gestos com as mãos mostrando que ainda estava por vir e mostrava o relógio, informando que o trem estava atrasado.
Com tanta confusão e medo de perder a parada, colocamos nossas malas no estreito corredor, as transformamos em poltronas e ficamos observando a linda paisagem de neve que cobria ruas e telhados da bela Itália. E nesse balanço do trem, fomos checando nome por nome das cidadezinhas pelas quais passávamos, já ansiosas para chegar ao nosso destino.
Mas víamos que, de minuto em minuto, pessoas de outras cabines iam até a sala do funcionário do trem, para saber a que horas chegariam. Ele, sabendo falar apenas sua língua pátria, não conseguia ajudar aos outros também. Então, ao virem nossa solução, ao mesmo tempo útil e agradável, de ficar no corredor olhando pela janela, logo, o local já estava lotado de malas e pessoas. Foi aí que descobrimos que não éramos as únicas que desceriam em Florença, como havíamos entendido.
Ao avistarmos a plaquinha com o nome Firenze, respiramos aliviadas e descemos logo do trem, antes que fôssemos todos expulsos pelo italiano, que já estava bravo com a confusão no pequeno corredor.
Ao final, rimos muito de toda aquela confusão e fomos desfrutar das belezas de Florença e da cozinha regional, até nos depararmos com a próxima aventura pelo velho mundo!”
História enviada pela leitora Zaine Fontes
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